1 de junho de 2008

Não há motivo para te importunar a meio da noite,
como não há leite no frigorífico, nem um limite traçado para a solidão doméstica.
Tudo desaparece. Nada desaparece.
Tudo desaparece antes de ser dito e tu queres dormir descansada.
Tens direito a um subsídio de paz.
Se eu escrever um poema, esse não é motivo para te importunar. Eu escrevo muitos poemas e tu trabalhas de manhã cedo.
Toda a gente sabe que a noite é longa. Não tenho o direito de telefonar para te dizer isso, apesar dessa evidência me matar agora.
E morro, mas não morro.
Se morresse, perguntavas: porque não me telefonaste?
Se telefonasse, perguntavas: sabes que horas são?
Ou não atendias. E eu ficava aqui.
Com a noite ainda mais comprida, com a insónia, com as palavras a despegarem-se dos pesadelos.
José Luís Peixoto, "Gaveta de Papéis"

4 comentários:

Leo disse...

Olá!
Ainda não conhecia este blogo, tampouco este autor: muitos bons, ambos!

Até a próxima!

Anónimo disse...

A noite nunca tem razões: ela é feita de paixões.




Abraços, flores, estrelas..

Carla disse...

Gostei do que li. Abriste-me o apetite para ler o autor.
Beijos

Anónimo disse...

Tulipa,




Quanto ao meu post de ontem, sobre a groselha, o que mais vale e talvez explique a metáfora é este link:


http://www.uvanavulva.com.br/blog/2007/05/18/suco-de-groselha/

Se puder, leia.

Abraços, flores, estrelas..